Corpo enquanto memória
A poética da memória no corpo
Memória voluntária e involuntária
Corpo-memória
A (po)ética da memória como direito
Memória e História
Memória e barbárie ou Será que foi assim mesmo?
A memória na historiografia da Dança
Da universalidade à pluriversalidade
Memória como direito
Memória enquanto fabulação
A poética da memória na fabulação
Ficções da memória
Fabulações da memória
TÁBUAS DE MARÉ
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Improvisações videográficas em dança
TÁBUA DE MARÉ - improvisação nº1
TÁBUA DE MARÉ - improvisação nº2
TÁBUA DE MARÉ - improvisação nº3
CAIXA-COLAGEM
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1º EIXO-NORTE:
2º EIXO-NORTE:
3º EIXO-NORTE:
Ao inverter a caixa
não vi fundo
não vi borda

[trans-bordei]


me inverti e inventei
re-inventei

[inverte-ei]

como uma catadora de rastros
catei, cortei, colei
e para ver o avesso da imagem
enviesei

como uma catadora de rastros
catei, cortei, colei
e para ver o avesso da imagem
enviesei

e assim
de viés
descobri substratos
nas ruínas da imagem



[substrato: aquilo que sobra da transformação]



[substrato: aquilo que sobra da transformação]



[substrato: aquilo que sobra da transformação]



uma caixa-substrato
caixa-de-fundo-falso
caixa-de-fundo-fértil
caixa-colagem.
ANDIROBA

derramo sobre as linhas soltas do equador
onde a memória têm calor

[memórias]

derramadas
derretidas
ensolaradas

meu avô, médico da floresta, me ensinou em sonho
uma mistura de andiroba, sapoti e copaíba
faz mover qualquer ruína.
ENTRE
veja o furo na borda da imagem
ENTRE
veja o furo na borda da imagem
[olho de boto no fundo dos olhos de toda paisagem]

pelas janelas e frestas
veja a margem
sinta a paisagem da rua

[esse rio é minha rua]


uma caixa-substrato
caixa-de-fundo-falso
caixa-de-fundo-fértil
caixa-colagem.
entre
nas rachaduras do muro
onde crescem ervas

samambaias,
jibóias,
piramutás,

[pedaços das escamas]

entre uma abertura e outra
um encontro.
MANIFESTO
de uma maniva equatorial

inverte-ei no eixo da palavra norte

[primeiro norte: palavra deve ser livre]
poesia que derrama

declina
contorna

entorna em si substratos
me inverti e inventei
re-inventei

[inverte-ei]

e assim
de viés
descobri substratos
nas ruínas da imagem



[olho de boto no fundo dos olhos de toda paisagem]

[olho de boto no fundo dos olhos de toda paisagem]

[olho de boto no fundo dos olhos de toda paisagem]

Tudo o que não invento é falso
Manoel de Barros
Toda história é sempre sua invenção.
Qualquer memória é sempre uma invasão do vazio.
Leda Martins
Ao testar movimentos desconhecidos, que nos
escancaram à alteridade ao invés de imunizá-las,
as fabulações afloram com mais intensidade.
Christine Greiner
sou feita de rio
de encontro
afluente
cabeceira
igarapé

[águas de pé]

sou feita de olhos d'água
hora transborda
hora deságua
hora calmaria
hora aguaça
caciporé, araguari, oiapoque, rio jari,
rio pedreira, gurijuba, matapi, amapari
sou feita de rio
do encontro entre
lago grande, rio negro, tapajós, amazonas
caciporé,
araguari,
oiapoque,
rio jari,
rio pedreira,
gurijuba,
matapi,
amapari
sou feita de rio
de encontro
afluente
cabeceira
igarapé
estar corpo-memória
estar em constante vazante,

corpo de memórias vazantes

doar-se ao movimento que escorre
que se banha no rio da própria vida
quantas cheias precisam para a história trans-bordar?
para bordar na história as memórias dos que insistem em silenciar?
quantas cheias precisam para a história trans-bordar?
para bordar na história as memórias dos que insistem em silenciar?
O corpo não tem memória, ele é memória.
GROTOWSKI
[...] ações que se ligam a nossa vida, a nossas experiências, a nosso potencial. Mas não se trata de jogos de subtextos ou de pensamentos. Em geral, não é algo que se possa enunciar com palavras (...) Esse subtexto, esse pensar é uma tolice. Estéril. Uma espécie de adestramento do pensamento, é isso, e só isso. Não é necessário ‘pensar’ nisso. É necessário indagar com o corpo-memória, com o corpo-vida. Não chamar pelo nome.
GROTOWSKI
Cada corpo carrega a humanidade em si.
Dudude
[...] o corpo-memória dita o ritmo, a ordem dos elementos, a
sua transformação [...] Por fim, começam a intervir os
conteúdos viventes do nosso passado (ou do nosso futuro?).
Portanto, é difícil dizer se são os exercícios ou antes um tipo
de improvisação; pode ser o nosso contato com o outro, com
os outros, com a nossa vida que se realiza, encarna-se nas
evoluções do corpo. [...] Se o corpo-vida deseja nos guiar em
uma outra direção, podemos ser o espaço, os seres, a
paisagem que reside dentro de nós, o sol, a luz, a ausência de
luz, o espaço aberto ou fechado, sem algum cálculo. Tudo
começa a ser corpo-vida.
GROTOWSKI
Toda poética pressupõe uma ética.
Manoel de Barros
Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie.
WALTER BENJAMIN
Quantos corpos e danças podem estar sendo invisibilizados - ou “adestrados”- a
partir de formações-criações em dança que compreendem a dança e a história da
dança a partir de uma história única? Quantas danças e corpos ficaram - e
continuam - no esquecimento histórico diante de narrativas tidas como universais?
Ao marcar a imagem da diferença, o corpo se disponibiliza à mudança e ao teorizar, já se coloca em movimento. O que a arte faz - ou aquilo que pode fazer quando não está subserviente aos dispositivos de poder - é radicalizar esta prontidão, fazendo da alteridade um estado de criação
CHRISTINE GREINER
[...] a fabulação também poderia ser pensada como um
procedimento de desamparo cognitivo que, ao expor o corpo a
um processo de des-identificação ou desfazimento, ativa o
fluxo da vida comum.
CHRISTINE GREINER
TÁBUA DE MARÉ - improvisação nº4